quarta-feira, 26 de novembro de 2014

A comunicação do caso Sócrates




A detenção e a prisão preventiva de José Sócrates revelou que a Justiça tem de comunicar mais e melhor. Não informar abre espaço a falsidades e especulações que nada beneficiam a imagem do sistema judicial.
 
Quer queiramos quer não, o caso do ex-primeiro ministro é diferente de todos os outros. As razões são óbvias. Sendo um processo tão peculiar a Justiça deveria ter atuado de forma diferente, alterando os seus processos comunicacionais – se é que se podem chamar assim – já muito ultrapassados, nomeadamente em casos ultra mediáticos como o atual.
 
Muitos criticaram a “justiça-espetáculo” dos últimos dias. Era difícil ser diferente em termos de aparato, mobilização de meios ou diretos televisivos, por exemplo. O protagonista, a natureza inédita do processo e a sequência de casos e escândalos nas últimas semanas são ingredientes mais do que suficientes para atrair magotes de jornalistas para a porta de um tribunal, tal como aconteceu de forma quase ininterrupta durante 72 horas. Não existirá certamente nenhum génio que conseguisse minimizar esta presença massiva de jornalistas portugueses e estrangeiros no local.
 
Agora o que poderia ter sido diferente era a gestão da comunicação que foi feita ao longo dos três dias. O silêncio das entidades competentes e a natural pressão de produzir notícias possibilitou a veiculação – em grande parte de jornalistas jovens e inexperientes em matérias de justiça - de informação pouco rigorosa que em nada contribuiu para o esclarecimento público. Deveriam por isso ter sido adotados proactivamente alguns procedimentos para evitar o perturbador vazio comunicacional criado pelo Tribunal Central de Instrução Criminal de Lisboa. Faltou claramente liderança comunicacional em todo o processo. Perdeu-se assim uma excelente oportunidade para explicar e aproximar a Justiça dos portugueses.
 
 

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